Quimeras

Como quem nem viu o golpe

ouso escrever uns versos...

Finjo não estar nem aí

pra não sofrer um colapso,

não ter crise de choro,

não desatinar de vez...

Meio a tantos cordeiros perversos.

Se cruzei dia nefasto,

nem foi nada longe assim.

Se não grito, grifo...engasgo.

Eu que de tudo avistei um pouco,

meço, listo, somo, conto, pondero.

Nem de longe afiro o estrago!

Penso: tonteei, anuviei, fiquei louco.

Tomei caldo de papoula?

Carece de ser um descuido, um lapso,

tropecei na ponta de um toco,

levei coice de jumento?

Resvalei, titubeei, ceguei, caí...

Num transtorno psicótico

esquizofrênico, insensato!

Eu vilipendiado, ofendido, paranoico.

Embaralhou meu pensamento...

Todo tosco, roto, pasmo

Dei um brado delirante,

maldito parlamento escroto!

Que momento controverso

de deuses, faraós, Ramsés...

Inescrupuloso rolo compressor

enlameia nossos limpos pés.

Obsceno manto sobre a alma cai

Muitos Saús de tez altiva

Desalmam a Bandeira de ouro.

Mais um baque, uma vertigem

à brava gente ferida, viva!

Clareai-me virgem Santa!!

Vi duendes, alma penada, assombração?

Grilhões forjando passos, mãos,

perfídios ardis amordaçando sonhos.

Tantas tramas, insana miragem,

voto com defesa, dedicatória, abstenção,

falácia, prosa, verso, reza...desconjuro!

Dez pragas seriam poucas

pra esse castelo decadente

oco, suturado em cédula enlodado.

Vai-se a honra de tantos brasis

terra santa encharcada de infâmia,

coberta de vermelho e negra cor.

Invoquei “padim” padre Cicero,

fiz jura à Padroeira Negra,

roguei, desta mancha me livrai!

Praguejei, despetalei, o verbo rasguei.

Débil, estático, mudo, prostrei

Feito prisioneiro sem cela.

Murmurei: do pesadelo acordei?

Ofuscaram-se me as vistas...

Nem é sonho, madorna, quimera,

ímpias malditas vozes

a história com sangue regais.

Meio século de declínio,

bandeiras mil a mastro tombais.

Mirei no alto o torpe painel!

Uma cova de vis embusteiros

golpistas, usurpadores de almas.

Estriges da seiva de gentes tantas

sujaram o sagrado manto verde mata,

tingiram de laivo as puras doces águas,

cuspiram o sustento dos desvalidos,

cobriram com as cinzas do ultraje

o mais límpido e resplandecente céu azul anil.

Mudaram o curso do rio.

Lucimar Oliveira
Enviado por Lucimar Oliveira em 15/08/2017
Reeditado em 17/07/2023
Código do texto: T6084132
Classificação de conteúdo: seguro