O Carrasco

Sou a cólera incontrolável

Sou o açougueiro da carne morta

Sou Moisés da escrava torta

Sou as pálpebras do mal afável

Vivo no meu Saara a alagar

Na veia que corre na morte

Um desejo bebido a torturar

Sobre a criatura sem sorte

Sou um navio perdido no oceano

No meu saciado peito a razão

No bramir incessante do engano

Sou o tambor que bate no coração

Não sou o Anjo Negro

Dessa divina tirania

Graças ao devorador sogro

Que morde a nefasta melancolia

Sou a voz do acusador que grita

Sou aquele que serve o envenenado

Sou o espelho da mulher aflita

Na megera a olhar o condenado

Eu sou a adaga que corta a tez

Eu sou o carrasco saciado

Eu sou a treva prolixa do talvez

Eu sou a vítima que beija o celerado

Como vampiro a sugar até as últimas

Gotas de sangue daquela Mensalina

Não fere a vítima nas penúltimas

Horas da agonia funda que contamina.

HERR DOKTOR

HERR DOKTOR
Enviado por HERR DOKTOR em 15/08/2007
Reeditado em 16/10/2008
Código do texto: T608303
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