O Carrasco
Sou a cólera incontrolável
Sou o açougueiro da carne morta
Sou Moisés da escrava torta
Sou as pálpebras do mal afável
Vivo no meu Saara a alagar
Na veia que corre na morte
Um desejo bebido a torturar
Sobre a criatura sem sorte
Sou um navio perdido no oceano
No meu saciado peito a razão
No bramir incessante do engano
Sou o tambor que bate no coração
Não sou o Anjo Negro
Dessa divina tirania
Graças ao devorador sogro
Que morde a nefasta melancolia
Sou a voz do acusador que grita
Sou aquele que serve o envenenado
Sou o espelho da mulher aflita
Na megera a olhar o condenado
Eu sou a adaga que corta a tez
Eu sou o carrasco saciado
Eu sou a treva prolixa do talvez
Eu sou a vítima que beija o celerado
Como vampiro a sugar até as últimas
Gotas de sangue daquela Mensalina
Não fere a vítima nas penúltimas
Horas da agonia funda que contamina.
HERR DOKTOR