pai
Bem que gostavas da festa, e, pai, que festa te faríamos hoje, os teus filhos que não bebem e os que gostam de bebericar, unidos na mesma sala, esqueceriam seus temores, suas mágoas, desavenças, lamúrias impuras, para o preito à sua pessoa. Bem sei que gostavas das viagens, pai, estivesses aqui agora, que viagens faríamos juntos... a planejar os meios, as paradas, os destinos de nossas jornadas...
Bem sei que querias a maturidade dos seus... e, pai, que bom se aqui estivesses para ver teu sonho realizado.
Ali, sentado à cabeceira, olhando de lado a lado teus descendentes diretos e agregados, que também o são, com certeza, terias os olhos d’água ouvindo o desarrimado canto dos desafinados... mas, o que conta, senão a emoção do momento? Sei que, com teus olhos acostumados a ver lonjuras, verias nos teus filhos os filhos deles, que um dia vieram, por ventura, e que te arregalavas acariciando-os pequenos, vindos à ti. E, do teu lado, pai, nossa mãe, alicerçada, a que pôs os filhos à mesa guarnecida sempre, sempre arrumada, que esses filhos sessentões viriam pedir-lhe agora que cosa, não as calças rotas, mas as almas.
Do lado desses sisudos senhores, estariam ambos abençoando o momento.
Caros, juntem seus tratos e vêm, que é hoje dia de festa, dia de tê-los ao lado de nossos sonhos e de poder sonha-lo também, com suas auras de bons pais e bons cidadãos, como poucos vivenciei. Sei que devem estar juntos, numa alegria maior do que poderíamos oferecer, mas por amor e ternura vimos convida-los para outra vez juntarem-se a nós, nessa ilusão de fartura, de amor, compreensão, agora que estamos sós, com vossa ausência fazendo-se presente em nossa sala... vazia.