A MISSIVA
A CARTA
Poesia de Honorato Ribeiro.
A CARTA.
Pai!
A coisa aqui está preta!
Não há mais dinheiro na gaveta,
Tudo é no banco, na poupança,
Quer dizer, pai, de herança!
O valor só quem tem os teres.
Pai!
Naquele tempo do senhor,
Que era bom, me mostrou
Sua bela e boa educação
Fez de mim um cidadão.
Que grande sabedoria, paizão!
Pai!
Com apenas dez anos aprendi,
Punha-me ao labor, a carpir;
Hoje há lei, pai, proibitória;
O filho não ver palmatória!
Que moratória, diz a lei.
Pai!
Mas pode ficar, pai, na rua!
Aprendendo roubar até a lua!
E fumar droga, pai, e a roubar;
Naquele tempo, pai, era só amar!
Hoje diz que é cafonice, Pai!
Pai!
A coisa aqui está mudado!
Menino enfrenta soldado,
Não há respeito aos idosos,
Nem aos professores bondosos!
Oh! Que medo de lecionar, Pai!
Pai!
Aprendi com a enxó na mão,
Com o serrote, a plaina, o formão!
Dez anos eu tinha, inda pequeno,
E tudo era tão bom, tão sereno!
Mas aprendia ser cidadão, Pai!
Pai!
Um fio de barba era documento!
Hoje não é mais mandamento;
Os homens perderam a vergonha,
A ética, a moral é tudo pamonha!
Tem mais valor do que gente, Pai!
Pai!
Esta minha carta pro senhor,
Que fez tudo e me educou,
Naquele tempo, não entendia,
Achava errado, pois não sabia,
Agora, pai, tenho que lhe agradecer.
Pai!
Não repare meus senões,
Mas aprendi com razão
A amar, também perdoar,
Pois, pai, aprendi a valorizar.
O que aprendi com o senhor.
Pai!
Obrigado por tudo que me ensinou
Por isso hoje sou poeta e escritor;
Professor, maestro e conselheiro,
Foi assim que fui carpinteiro,
Padeiro, pintor, cantor, compositor.
Pai!
Vou terminar a minha missiva,
Pro senhor ler a primitiva
Pois hoje é tudo pelo celular,
Ninguém tem tempo pra orar
E agradecer a Deus e não pecar.
Assinado, seu filho caçula que lhe ama
Até hoje não me esqueço da sua fama
De violeiro, marceneiro e tocador;
De chula, rio abaixo e cortador
De madeira para o fabrico de violão.
Pai, parabéns pelo seu dia de hoje
E todos que souberam educar!
Viva o Dia dos pais!