AÇOITE DE UMA NOITE

Nasce a índia nasce a negra

jogam o laço e as cobiças, atiça

... E a cima da pele morena

na rua com sua noite escura

nasce a cura do capeta.

Pé de morro, pé de plano, Socorro!

grito no cume da vida, é estorvo

sem alforria p'ra inocente, doutor

só para mim que sou negro, sou autor...

Vou pagar... Vou pagar com minha dor.

E a lama? Foi pra mim o que sobrou

dos gritos abafados de uma noite

censura enclausurada do horror

o goro o show... O mal do olho,

flecha no peito expressão do senhor

O som amargo, que a vida amargou.

Minha barra me barra na barraca

e roda nas águas, que morro derribou

minha esperança, feita de velha lata...

se amassa e enferrujam amassadas

na calada, da noite calada.

Minha garrafa sem vinho, teve cartas...

Bilhete de pedido, socorro, salvação

fiz oração sob escuro de um porão

lúridos, escondidos dos tinidos

e dos ouvidos, do meu terrível irmão.

Já fui negro no negreiro sem amor

tive esposa, tive filho meu senhor!

Que as águas e o vento me levou

sobrou para mim, esperança iludida

e o mourão, açoitando a minha dor.

Antonio Montes

Amontesferr
Enviado por Amontesferr em 12/08/2017
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