CARMEM

Foi na mesma cama, naquela,

onde filha se fez mulher,

que Carmem, sem pudor qualquer,

sentiu os mesmos calores

do mesmo corpo pelo qual um dia

sua filha jurou amores.

A menina não suportou

e fugiu pra longe

carregando sua dor,

que foi curada, transfigurada

em novo amor, em nova cama,

mas agora habitada

pela pele fria de uma dama.

Do rapaz ela já não se lembra.

Ele então nem tem saudade,

pois nunca a amara de verdade.

E agora, em braços experientes,

não procura mais palavras decentes

pra exprimir o que por Carmem sente.

Só se pergunta às vezes

até quando o corpo dela vai-lhe ser suficiente.