O sanfoneiro e o moleque
O sanfoneiro toca para o céu,
Toca para as árvores e seus frutos
E tudo vai desabrochando e alegrando
Junto das melodias que saem lá do morro;
A mulata desce pronta para amar;
E o doce aroma do crepúsculo instiga
Todo o alento de compor a paixão, graças
À brisa envolvente que acalanta os peitos
Que já extasiados, esquecem a dor
E ouvem o sanfoneiro.
Graciosos pinheiros, sonhadores rosais,
Dêem toda cor e poesia que almejamos;
Dêem a nau de lábios sussurrantes de
Prazeres ao moleque que em sua frouxa
Esperança vai apagando seu precioso vaga-lume.
Vejam e ouçam e lancem os seus carinhos
Ao moleque de riso lânguido que fita
Sem nada em troca o mar de suas fantasias
Que em sua forma viva corresponde-lhe
Com toda a fé, que ele nem sabe mais no quê.
Então o sanfoneiro toca e parece-lhe
Proferir algo que o faz inda caminhar
Em sua jornada de roteiro vago.
Não pare sanfoneiro! Por Deus!
Pois o moleque já canta contigo!
Inda não pranteou;
Oh meu sanfoneiro! Continue;
Dê com seu ditoso instrumento
A Magia a esse moleque
Que lhe ouvindo aprende a cantiga
Da vida;
Aprende que assim como a cantiga que
Se ouve lá do morro, é ele que compõe
A melodia da sua vida.