* Recíprocas sensações, e o medo... *
"...De que vale a caneta bico de pena,
Se não a pena que sente,
Da tristeza aparente,
Do pobre escritor?
De que vale o pranto chorado,
Se não for lamentado,
Muito menos derramado,
Pelo pobre escritor?
De que vale o papiro ou o papel?
As horas perdidas olhando no dedo, o anel,
Fitar pela janela a chuva que cai do céu?
Momentos esses, do pobre escritor.
De que vale o livro de cabeceira,
Madrugadas a dentro parado na soleira,
O dedo batendo na madeira,
Perdido sem eira nem beira,
Diga-me, pobre escritor ?!
De que valem noites adentro,
Copo de whisky na mesinha de centro,
Aquele vazio que fica por dentro,
Sentindo o corpo em epicentro?
Pergunto eu! Pobre escritor.
De que me valem todas essas perguntas,
Se navego por este mesmo mar que te afundas,
Sentindo na pele as mesmas cicatrizes profundas,
E o medo insano,
De que um dia Deus mude seus planos,
E na calada de nossos sonos,
Por pecado cometido,
Tire de nós, todos os sonhos,
De ter nas mãos,
O dom divino da criação,
Arrancando de nós a inspiração,
Perdendo-se então,
Em toda imensa vastidão...
A obra divina,
Do escrever!..."