Cantiga
Como dizer a voz do riso
A quebra do silêncio
Imerso na xícara de café
Quente e vivo como o sol
Quando a manhã foi nascente
de cantiga?
Como dizer o que os olhos que veem
não viram
E os que não veem desejam
Ao som procurado pelas mãos
Tão pele esteve o riso
Vestindo o dia do chão das tardes?
Como dizer o tom do riso
aos poros poentes
Abrindo o tempo secreto das estradas
E a lua guardada, desde quando
a noite é por vir?
Não há palavra que o diga.
Só a poesia se desnuda,
a passo de entremeios
guiada pelas tramas do azul
encoberto de luz.