O Corredor
Era noite de julho, úmida e fria
Em um corredor que luz mal se via
Era nele que para casa eu voltaria
Mas como sem amor
Piedade ou mesmo dor
Um som normal me assustou
Um passo se ouvia
Olhei para trás e só escuridão via
Parado no corredor de alvenaria
Um passo leve me assustaria?
“Ola?” ousei cumprimentar
Quem quer que estivesse lá
Talvez nem querendo assustar
Mas ninguém respondia
Voltei a caminhar e logo soaria
O som de minha provável fantasia
Um passo de sapato me seguia
“Quem é?” gritei afobado
E talvez meio abalado
E pouco tranqüilizado
Mas só silêncio se ouvia
E um novo passo meu daria
Se meu medo que assim surgia
Deixasse-me correr correria
Mas quando consegui
O som atrás de mim
E ainda mais fugi
Mas o som me seguia
Ao parar gritei em tortuosa agonia
Como um louco: “Que porcaria!
Quem é você que me seguia?
Diga-me seu desgraçado!
Ou é por demasia veado?”
Só silêncio foi me dado
Como qualquer um odiaria
E em meus braços recolheria
Meu corpo, a dor e melancolia
E abraçado aos joelhos tremia
Tremia e chorava
No corredor que não acabava
E minha pele já muito alva
“Que porcaria!”
E então da escuridão me aparecia
Uma mulher que mais me parecia
Um cadáver do que alma fria
E sem muita demora
Essa alma de senhora
Olhos saltados p’ra fora
Me sorria
“O que queres seguidora agonia?”
Perguntei como perguntaria
Alguém com forte cardíaca arritmia
E ela com sua maltratada mão
Joga no sujo e frio chão
Um sapato e um coração
E logo me assustaria
“Que diabo! Criatura de pele alvadia
Que queres com essa maldita liturgia?
Seria, talvez, espécie de feitiçaria?
Ou seria alguma forma
Que Hades impôs norma
Para voltar de alguma forma
Aos vivos, essa magia?”
Ela não me respondeu e sumia
Tão misteriosa quando aparecia
E me deixou uma singela alegria
E um questionamento tão
Estranho quanto vão
Um sapato e um coração
O que ela queria?
Mais uns passos e me aparecia
Um homem armado que morreria
Sem sapato e coração me aparecia
Ela me salvara
Como quem me amara
Mas por que me salvara
Boa alma que orações merecia