Reflexo

Vejo um sujeito que se veste do meu corpo

e ergue as mãos ao rosto

como se eu fosse.

E assim como um verme 'imundo'

que se arrasta nos rincões da imensidão

desse ou de outros mundos, vive a replicar-me.

À frente do espelho, o miserável acena-me

com um pisco nos olhos, provoca-me

revidando o meu descaso frente à tua presença.

Como uma doença incurável, incansável

segue a afrontar-me vida afora

sua impertinência me incomoda.

Mas,por algum motivo,vejo muito dele em mim

e, por isso, já não olho mais no espelho

já não anseio olhar.

Não por medo do reflexo dele, onde me vejo

e sim, por medo da face do sujeito oculto nas sombras

que não vejo refletida quando me tiram o espelho.