Piche Néscio

Vou entrar nas palavras de Rimbaud

Mostrando-lhe minha mandíbula decaída;

Aterrorizando sonos perplexos.

Debruçado ao chão e sentindo policias

À nossa espera

Com seus verbos sujos.

-Camaradas! Me esperem!

O desgraçado ônibus já vai cruzando

Sobre o Piche Néscio afundando,

Com seus alto-falantes que são caras e bocas.

Sinto o cheiro! Piche Néscio não espera

Com seus sintomas de solidão!

Piche Néscio se estende pela escuridão,

Pelo luar da neurose longínqua,

Na rodoviária de suas vísceras

Estomacais, matinais, marginais, materiais.

Ele não faz questão de esperar;

Piche Néscio!

Nuvens irão passar nos laureando;

Laureando nossos pêlos tórridos,

Sorrisos latinos, flamejando jóias

Escorrendo pelas coxas;

Engendrando nossas libidos;

Instigando frenéticas multidões.

E o Piche Néscio não adormece.

Piche Néscio lânguido e quase moribundo!

Sério sob os pés de seu cortejo

Néscio, mascarado, mas Néscio!

Piche Néscio, mexe bebendo o vício,

Piche Néscio, desce pelo lixo,

Desce pelo nicho feito bicho.

André SS
Enviado por André SS em 05/08/2017
Código do texto: T6075279
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.