Através das Araucárias, Depois das Sequoias, Entre o Caos e o Tédio

Insolúvel momento.

Subo as escadas em dois lances.

No meio a luz se torna sombra,

Árvores me contornam.

Parece que ouvi dizer:

Vem, vem, caos juvenil,

Senta-se ao meu lado.

Na vista que aqui podemos ver,

Podemos perceber as sutilezas,

Uma por uma,

E nesse ínterim

Sermos amorosos,

Entre dois seres,

Discutir lições,

Apreender gerações.

Ó caos malogrado,

Vem ,vem, sente ao meu lado,

Ouvi dizer.

E me conte

Caos insuportável,

Como é que és?

Que com sorriso suporta,

Carregar esse sossegado suspiro,

No meio do todo moído,

De irascíveis criações?

Você nasceu para sempre ser

O jovem devasso,

E jovem morrer.

Pois ó caos de marfim,

Essa jornada sem fim

Não se faz à toa.

Me chamaram de caos

No meio das araucárias

Saltadas do peculiar asfalto.

Não sei se sou, será?

Não me abstenho porém

De algumas revelações.

Talvez sentar e te ouvir

Possa me elucidar,

Me persuadir.

Sento rápido, suspiro intacto.

Nada fale ele me diz.

Vem, vem menear a alma.

Daqui vemos

Do outro lado das sequoias,

Algumas das entrelinhas

Agora grifadas, estão claras.

Vejo no seu rosto

O jovem que esperei tanto.

Não posso dizer

Que consegui conservar

Toda minha beleza,

O tempo passou

E eu esperei muito,

Mas os anos valeram.

Eu quis falar

Quando meu olhar rolou.

Revelar que o caos não era eu

Quando ele soluçou.

Então parou de falar

E sorriu lindamente.

Eu não quis mais dizer

O que talvez fosse,

Dizer-lhe,

Dizer-me.

Parei por um segundo,

Perdi a vista no horizonte

Que já pescava pássaros

Numa aquarela distante.

Meu amigo ao lado

falava novamente.

Sua voz fatigante,

Não de uma estafante corrida,

Mas de toda uma vida.

Gelei quando fui toca-lo

E quase me desabo para o lado.

Meu tronco dobra,

Minha palma da mão

A queda escora.

A araucária ri.

Eu levantei e disse para ela:

Eu sei que estou sozinho,

Não precisa agir assim.

Me chamaram de caos,

E eu só vim.

Se foi você e suas irmãs

Que me persuadiram

Não se enganem mais,

Estou para partir.

Para o outro lado das sequoias,

Para o ruído das casas

Que fazem aquela fumaça elevar-se,

Se estender ante o sépia

Da minha apreensão.

Que trazem a fuligem que pincela

Suas folhas acuminadas e melancólicas.

Sigo em frente

Em passos descompassos.

Já na clareira que se formava,

Na parte desnuda da folhagem,

Entre alguns gemidos de fim de tarde,

Escuto novamente a voz,

Que me atraiu até lá,

Dizendo: até logo meu rapaz...

Não ouvi

Chamar-me de caos,

Aparentemente...

Não me importo mais.

Levanto um ombro,

Desço o outro,

Levemente.

Faço eles alternarem

E dançarem ao som

Do meu assovio.

Alguma música francesa,

Distantemente gravada

Na minha breve mente,

Agora desafinava

Junto aos ruídos das araucárias.

Essa caminhada

Sempre me fora pertinente.

Serpentear por esses terrenos

Ainda verdes.

Outro lance de degraus.

Vou de dois em dois.

Aquele dia agora continha

Algo de fascinante.

Penso no horizonte

Através das sequoias.

Para onde vai

A fumaça das casas,

As retas infinitas.

Era um desconhecido ilícito,

Significava isso para mim.

Talvez para lá iria

No dia por vir.

Talvez passasse aqui

Com alegria mirim,

Entre araucárias novamente.

Chamando o tédio: Ó tédio!

Que sim vai estar aqui.

Em cima de um tapete,

Junto com pães e vinhos,

Sempre com seu charme moroso

E o seu olhar amigo.

Para me dizer

Que aparentemente...

Não estamos,

Nem estaremos...

Tão sozinhos.

Onalim Andrade
Enviado por Onalim Andrade em 05/08/2017
Reeditado em 05/08/2017
Código do texto: T6074977
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