SINA
SINA
Levantar antes do sol
Conferir o documento
Lanche na mochila
Café de garrafa amanhecido
Passo rápido decidido
Força de pensamento
Corre... pra pegar senha tem fila
Desvia do pedaço com polícia
Ouve a notícia do futebol
Seu time havia vencido
E daí? Perguntou pra si
Sem cartão pra passagem
Vento gela o suor
A escorrer na ponta do nariz
Assovia desafinado
Pra acordar a coragem...
Acende uma lembrança
Imagem de criança
Tempos de contar vantagem
Seria muito feliz
Craque igual o Pelé
Chutava a pedra-bola
Rasgando a sola do pé
Um gol desenhado no muro
E agora? Por fora disfarça.
Por dentro chora
Cadê aquele futuro?
Hoje desperta no escuro
Papelão no sapato com furo
Sai à cata de emprego
Tomou banho de descarrego
Que painho ensinou
Fez trabalho pro santo
Mas não adiantou
Foi-se o tempo do sossego
Não tem mais chamego
Voz de mãe em acalanto
Dizendo: “Calma, meu nego!
Não carece de pranto
Isso tudo é quebranto
Esse azar, essa desgraça...
Um dia melhora... e passa...”
E enquanto não termina?
Engole à seco a rotina
Chamaram a sua senha
Esperança se ilumina
Vaga lá pros lado da Penha
Quase outro lado do mundo
Serviço de faxina
Auxiliar de gari
Salário menor que o necessário
Alimentação e vale-transporte
Aquele menino tão forte
Não é mais um guri
Merecia melhor sorte
Seria um invejado artilheiro
Refinado quarto-zagueiro
Reflete não mais que um segundo
Finge ser o sonhado contrato
Holofotes, noticiário do grande fato
Sorri e diz meio sem jeito
Eu aceito...
Onde assino?
Está perfeito...
Começa amanhã de manhã...
Na volta pra casa...
Chuta pedrinhas
Como um campeão...