SINA

SINA

Levantar antes do sol

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Lanche na mochila

Café de garrafa amanhecido

Passo rápido decidido

Força de pensamento

Corre... pra pegar senha tem fila

Desvia do pedaço com polícia

Ouve a notícia do futebol

Seu time havia vencido

E daí? Perguntou pra si

Sem cartão pra passagem

Vento gela o suor

A escorrer na ponta do nariz

Assovia desafinado

Pra acordar a coragem...

Acende uma lembrança

Imagem de criança

Tempos de contar vantagem

Seria muito feliz

Craque igual o Pelé

Chutava a pedra-bola

Rasgando a sola do pé

Um gol desenhado no muro

E agora? Por fora disfarça.

Por dentro chora

Cadê aquele futuro?

Hoje desperta no escuro

Papelão no sapato com furo

Sai à cata de emprego

Tomou banho de descarrego

Que painho ensinou

Fez trabalho pro santo

Mas não adiantou

Foi-se o tempo do sossego

Não tem mais chamego

Voz de mãe em acalanto

Dizendo: “Calma, meu nego!

Não carece de pranto

Isso tudo é quebranto

Esse azar, essa desgraça...

Um dia melhora... e passa...”

E enquanto não termina?

Engole à seco a rotina

Chamaram a sua senha

Esperança se ilumina

Vaga lá pros lado da Penha

Quase outro lado do mundo

Serviço de faxina

Auxiliar de gari

Salário menor que o necessário

Alimentação e vale-transporte

Aquele menino tão forte

Não é mais um guri

Merecia melhor sorte

Seria um invejado artilheiro

Refinado quarto-zagueiro

Reflete não mais que um segundo

Finge ser o sonhado contrato

Holofotes, noticiário do grande fato

Sorri e diz meio sem jeito

Eu aceito...

Onde assino?

Está perfeito...

Começa amanhã de manhã...

Na volta pra casa...

Chuta pedrinhas

Como um campeão...

Pedro Galuchi
Enviado por Pedro Galuchi em 04/08/2017
Reeditado em 12/08/2017
Código do texto: T6074318
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