Dentaduras na vitrine

A velha cozinheira já colocou a comida na mesa;

Quase tão enrugada como ela;

Apoiada em sua bengala, vem mostrar

A esfera de labaredas, refletida no vidro

Do casarão.

-Adoro aqueles mosquitos que têm cheiro de

Mostarda, lambendo a minha torta de

Alcachofra!

Assim diz a caduca.

A dentadura cai e mostra aqueles

Jardins poderosos (agora inflamados).

Viraram cinzas.

Não sinto meu corpo como sentia quando

Assistia os céus psicodélicos de sábado;

As flores não caem mais no meu peito;

Se caem estão murchas.

A voz calou-se padecendo nas notas que

Valem uma vida inteira; voam pelas quatro

Estações débeis sem as asas que tocavam a

Lira esculpida nas claves dos venturosos

Filhos nativos nutridos de luares ínfimos.

Que em frenesi nos arrebatavam.

Apenas mímicas perturbadas com efetivas

Bofetadas no pulso tombado e tolhido

Que não sangra. Apodrece!

E vai transformando-se em pó para ser

Levado para túmulos frígidos que

Servirão de palanque para ratos.

Fragmentos de intensidades excomungadas circulando

No meio-fio das pontes tatuadas por perucas

Amalucadas. Escorregaram nos fungos

Zangados, raivosos, não suportaram os

Traços dos arco-íris que saíam dos

Amplificadores embutidos em nossas artérias.

Ave que anda sobre as telhas, tu

Vens toda lânguida manhã enfrentar-nos

Com feitio bravio de pudores de um mundo

Que destila vinagre em penicos, para

Bebermos e depois pagarmos mais uma dose.

-Adoro aqueles mosquitos que têm cheiro de

Mostarda, lambendo a minha torta de

Alcachofra!

Assim dizem as dentaduras colocadas na

Vitrine, aguardando sedentas os sedentários

Zumbis;

E elas riem das mímicas que fazemos

Nos túmulos frígidos.

Nada sangra, só apodrece!

André SS
Enviado por André SS em 03/08/2017
Código do texto: T6073065
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