Nós em quatro atos

Ato I: I'm okay, you're okay

Tudo - na verdade não posso falar assim porque o tudo é gigantesco demais para meus lábios - está bem. Mesmo se não estiver, logo estará, está em procedimento, eu me acostumo às coisas, me encaixo as pessoas, rebolo e entro em qualquer vaga. Sei que existe qualquer coisa comigo ou em mim que me aponta pra frente, que me dá o direito de me contradizer, que sabe que sou qualquer coisa menos o que sou ( a única palavra que me define é in-de-fi-ní-vel).

Ato II: I'm not okay, you're okay

Sou e serei aquilo que come os restos após as refeições de enormes pés que saem por aí pisando tudo das criaturas tão altas que não consigo nem ver se têm rostos ou cabeças só queria ver um pedaço mas sei que meu lugar é aqui, nas sobras, por culpa minha e dessa mente que entra em redemoinhos colossais e por isso se funde, por isso é capenga, por isso não engasga com as estrelas do alto.

Ato III: I'm okay, you're not okay

Os outros: cacos de vidro no meu sapato. Estou eu aqui, tentando conquistar coisas, sendo mantida atrás por uma fila lerda, suarenta, reclamona, eu aqui, esperando um espaço, eu, que devia estar na frente, que devia ter holofotes me causando sombras até quanto durmo, Eu...

Ato IV: I'm not okay, you're not okay

Um bando de criaturas de folclore indo diretamente pra morte. Isso é o que somos, doentes, carentes, agressivos, esfaqueando uns aos outros e tirando do sangue diamante, tirando do sangue seu alimento, tirando do álcool uma falta de sentido que amansa as tensões dos ombros, nós, curvados pelo peso dos sonhos nunca realizados, nós, larvas...

Texto inspirado numa teoria da psicologia confeccionada por Timothy Leary e Robert Anton Wilson, onde grande parte da população mundial pode se encontrar - no que tange em sua relação consigo mesma e com os outros - nesse quadrante: I'm okay, you're okay ( o mais saudável), I'm not okay, you're okay, I'm okay, you're not okay, I'm not okay, you're not okay ( o menos saudável).