Carcaça
Vestido desta carcaça de carne e osso,
eu me arrasto pelas ruas da minha cidade,
e me pergunto até quando,
estarei aqui.
As pessoas se reproduzem freneticamente,
se apertam em ônibus lotados,
e se matam, se devoram e se amam,
ao vivo, diante dos meus olhos.
Vivemos e mentimos para nós mesmos,
como se fôssemos importantes.
nos enganamos, engolindo toda essa merda
como se fosse normal
o sangue que escorre da televisão
na hora do jornal.
Ah, meu amor. Já se foi o tempo em que o homem
era um animal,
que tinha medo da chuva que caia do céu,
sem nenhum aviso.
Mas eu tenho
medo,
medo da morte, medo dos homens e das mulheres.
eu me apavoro quando abro meus olhos de manhã,
e quando não consigo dormir,
me apavoro com a morte que me espera do lado de fora
sem que eu saiba a hora
que ela vai aparecer para me levar.
A inevitabilidade do fato
me aterroriza e eu não consigo não pensar
que um dia vai ser a minha vez...