Vaga Lume
Enquanto a terra gira
Tomo minha primeira cerveja,
Espero que não me acabe girando.
Enquanto as estações se laçam
Eu envelheço diferente delas,
Sabendo me diferente delas.
Enquanto consome pelas beiradas
Alguém lhe consumará por inteiro,
Você nunca se sentiu tão inteiro.
Assim como? Será que crescemos do zero?
Tão escuro quanto as mais duras certezas,
Ver as estrelas é algo meio raro.
A via láctea brilha distante de nós, sendo nós,
Somos o brilho de outra galáxia.
Assim como? Porque tão calmo?
Se apenas uma vida fosse apenas uma vida,
E não múltiplas miopias de almas áridas,
No interior as monções anunciam o deserto,
Com musica e comida você se recompõe a cada dia,
Na glória és um acorde em violão de sete cordas,
As vontades virão sempre fora de hora...
Bate, bate, de porta em porta,
Assim como? Tua luz própria?
Porque tanta pressa vaga lume?
Enquanto as formigas trabalham e as vacas pastam,
Eu sento no sofá, deito e durmo.
Será que formigas dormem?
Para que dormiriam?
Enquanto milhares transam, nascem e morrem,
Eu penso como é bonito e me dissipo.
Morrerei de bala, de susto ou de tiro?
Brilha, brilha em mim, olhares fundos.
Enquanto tudo se apressa sem olhar para trás,
Eu trago uma bolsa e o cigarro trago.
Descobri do que realmente gosto: contemplar.
Inevitável é, não olhar para trás.
Assim como? Tão tarde quanto?
Tem coisas que vem tarde mesmo,
Mas esperar muito não é nada bom.
Como você vai fazer então?
Do jeito que você quer,
Ou do modo como eles gostam?
As diferenças são menor do que parecem,
Ilumine-me agora, rápido e leve até forte,
Logo logo serás aurora.
Pisca, pisca na multidão, vaga lume!
Você que foi meu irmão.
Enquanto o super homem se arrisca,
Sento no bar e tomo cerveja.
Não me comove o que não vejo.
Enquanto seu brilha durar,
Evitarei ao máximo lhe encarar,
Pois todo brilho ofusca.
Tão tímido como? Tão terno quanto?
Respire, respire, mais uma vez, apenas,
Vaga lume.