Rasgue
(pensando na canção "Risque" de Ary Barroso)
Rasgue se tens um peito amigo! Rasgue o que
Deixo sobre o tamborete dos solitários!
Se te elogio logo acho que a vaidade irá
Impedir o meu amor. Decido sempre pelo
O que silencia o rojão que vem de fora.
Nem tanto neurastênico como poderia ser.
Sem presente para dar em dia importante aos
Que iludem-se facilmente.
E a mulher mente porque tem que mentir - ser
Raro que é. Recuso até a natureza das coisas,
Sem preço nem desconto pois é de graça.
Um isqueiro é mais prático quando os enjeitados
Necessitam de mais fumaça na cara barbeada,
Que na alma o lodo mente ser permanente.
E acreditamos!
Rasgue mais um pouco o que espera, amigo
Das lâmpadas que não luzem o ambiente;
A luz iria tirar a fantasia publicada toda semana
- pelo menos esta é publicada.
Podemos perder o que nos resta da festa;
Sou nada além do que penso ser, porém filo
Um cigarro barato só pra fingir que não me importo.
Meço os foguetes que estouram na amplidão
Entre latidos de cães; rosno por um amor azul.
E bati minha cabeça no mictório da fábrica, escorregando
Na tolice covarde sem espectadores; um homem
Entra, mas logo sai, não querendo incomodar
A desgraça.
Rasgue então o papel do tamborete que lá
Amanheceu sem mover-se. Apenas
Um pouco molhado de saliva dos rapazes
E moças felizes ao lembrarem-se da canção
Que rasgou o coração.