Rasgue

(pensando na canção "Risque" de Ary Barroso)

Rasgue se tens um peito amigo! Rasgue o que

Deixo sobre o tamborete dos solitários!

Se te elogio logo acho que a vaidade irá

Impedir o meu amor. Decido sempre pelo

O que silencia o rojão que vem de fora.

Nem tanto neurastênico como poderia ser.

Sem presente para dar em dia importante aos

Que iludem-se facilmente.

E a mulher mente porque tem que mentir - ser

Raro que é. Recuso até a natureza das coisas,

Sem preço nem desconto pois é de graça.

Um isqueiro é mais prático quando os enjeitados

Necessitam de mais fumaça na cara barbeada,

Que na alma o lodo mente ser permanente.

E acreditamos!

Rasgue mais um pouco o que espera, amigo

Das lâmpadas que não luzem o ambiente;

A luz iria tirar a fantasia publicada toda semana

- pelo menos esta é publicada.

Podemos perder o que nos resta da festa;

Sou nada além do que penso ser, porém filo

Um cigarro barato só pra fingir que não me importo.

Meço os foguetes que estouram na amplidão

Entre latidos de cães; rosno por um amor azul.

E bati minha cabeça no mictório da fábrica, escorregando

Na tolice covarde sem espectadores; um homem

Entra, mas logo sai, não querendo incomodar

A desgraça.

Rasgue então o papel do tamborete que lá

Amanheceu sem mover-se. Apenas

Um pouco molhado de saliva dos rapazes

E moças felizes ao lembrarem-se da canção

Que rasgou o coração.

André SS
Enviado por André SS em 01/08/2017
Reeditado em 07/08/2018
Código do texto: T6071090
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