Culpa

Euna Britto de Oliveira

www.euna.com.br

Uma ilha – ninhadas de ovos de tartarugas em suas areias...

Eu queria ver!

Tinha de atravessar um pedaço de mar...

Levaria crianças da família comigo.

Havia barcos para a travessia.

Não sei de que jeito,

Cheguei à ilha.

Numa elevação, duas defesas:

Um quartel e uma igreja, literalmente ligados,

Lateralmente colados.

A igreja era barroca, com duas torres simétricas.

O quartel, de dois andares, com militares de plantão.

A defesa humana e a defesa espiritual.

Duas edificações belíssimas, de sonho...

Foi um sonho.

Preciso de tantas defesas!...

Acho que foi por isto

Que tive esse sonho:

Para ver o par de prédios

De alguns que nos protegem.

Contra mim mesma,

Não há defesa.

Há uma vela acesa na escuridão

E nem tudo eu enxergo.

Às vezes, vejo o que é certo,

Às vezes, não.

Tropeço,

Penumbras enganam-me.

Há o que parece que é, mas não é.

Há o que não parece, e é.

Erro, mesmo quando penso que acerto...

De “mea culpa” estou marcada.

Sentimento de culpa mata.

Nascemos na culpa – a do pecado original,

"A feliz culpa que nos mereceu o Salvador!..."

Que ranço é esse, meu Deus?

Sempre com o pecado de lado?

Desta vez, o de ter usado palavras mal colocadas

Que, mesmo sem intenção,

Geraram um mal-entendido

E, tanto quanto a mim, fizeram sofrer um inocente.

Estou imprensada, prensada pelas minhas próprias palavras.

Como vou furar o cerco?

Estou ilhada.

Liberta-me, Senhor,

Da malha fina das palavras...

Euna Britto de Oliveira
Enviado por Euna Britto de Oliveira em 14/08/2007
Código do texto: T607066