A NOITE SEM UM AMANHÃ
A NOITE SEM UM AMANHÃ
Taças quebradas cacos dedáleos
Em uma configuração que me foge.
Dédalo também as cinzas na urna,
Uma vida que vira resto de cigarro.
Cacos compondo obra de arte rara,
Cinzas voltado o pó ao pó outra vez.
No canto da sala a aranha só a tear,
E num quarto escuro estou entregue
Quero só ficar na cama e não respirar,
Deixar as teias dedálea só se formar,
O pó se assentar sobre os feios moveis.
Tudo empoeirado e aparece à barata,
Ela zanza por tudo e se contenta muito,
O ambiente passou a ser dos pequenos,
Quero apenas ficar na cama então ir,
Levantar para urinar e talvez defecar,
No móvel empoeirado a garrafa de uísque
Restou a bebida forte talvez um sedativo,
O vinho bom a muito acabou em mim,
As taças todas se quebraram no descuido
Olho para as paredes mal pintadas e nada,
Sem quadros, sem lembranças apenas pó.
Volto a deitar e volto a levantar e urinar,
Sem banho com os odores horríveis da vida
Louças sujas e não há mais nada para comer
Resta a última dose de uísque no copo sujo
Um último comprimido na cartela de Valium
Logo meu amigo sono voltara até a mim,
O sono matará a fome, matara meu tempo,
Dormirei no tapete sujo com a barata,
Quem sabe na oração pedir para não acordar...
André Zanarella 02-05-2017
Dedáleo= Relativo a Dédalo; intricado, artificioso, engenhoso.
Dédalo = Labirinto, encruzilhada, caminhos confusos.
= Confusão, complicação.