auto-Pesca(dor)

Era o por do sol

quando o gelo da solidão

me fazia voar

nas asas da borboleta carmim.

Eu de azul

e o blues do vento

assanhava as pontas dos meus desencantos.

Depois eram dez

as horas badaladas no meu pulso

enquanto o curso do sangue fervia

escuro

sem se permitir luz.

E mesmo com os olhos fechados

eu via a cor da dor

da ira fechar a janela

da saudade

de dentro de mim...

E um pássaro a bater asas

voava das linhas de minhas mãos

para dentro da vida aqui fora...

Agora eu já sou lua

Um quarto crescente,

cheia de encantos...

Gesto a saudade daquele dia

e do lugar que a gente brincava

de caçar vaga-lume...

Depois era madrugada

e a gente sonhava que o mundo era do tamanho do que se via...

Agora já não vejo mais

a borboleta carmim,

o vento blues

nem o vaga-lume

das nossas utopias.

Se ao menos tivesse um cigarro de esperança, deixaria queimar a seda

enquanto essa rede armada aqui

meu coração desencanto

acalanta.