Um pássaro pela minha janela
Deixei, esperançoso, a janela aberta.
Um Pássaro de asas imensas entrou suavemente.
Sentou-se à mesa e me pediu da água do meu pobre cântaro.
Eu olhei aquele ser indefeso do céu,
De belo canto e de frágeis asas.
Dei-lhe de beber como a quem serve à criança abandonada.
Ele agradeceu com uma bela canção.
Depois recitou uns dos salmos mais belos do seu Reino.
"Das profundezas clamo a Ti, Senhor
Ouve o meu grito!"
E eu chorei.
Chorei como se fosse uma pomba aprendendo a voar.
Chorei como se houvesse caído ao chão, destronado por meu pecados.
Mas ele não era um Pássaro; era um Leão!
E me amedrontei.
Desejava fugir de suas garras
Virar o rosto
Dizer mil palavras negando-o veemente.
Encurralado à parede nada mais me restava senão gritar...
E eu gritei.
E meu grito tão forte, tão sincero
Amansou o coração daquela fera.
Seus olhos que tudo vê perscrutou-me completamente.
Pousou sua mão sobre a minha
E, sobre suas asas, elevou-me dali.
Do alto, observava os homens.
Ele me dizia em tristes palavras que eu me esquecesse de mim.
Que o homem se sujeitou ao que era típico de homem
E que, portanto, a aurora não mais lhes sorriria.
Então. no meu êxtase de saudade, cai.
Sim, novamente cai.
A janela, aos poucos, ante mim se encerrava
E, por estar tão carnal ao homem, perdi a poesia daquele Pássaro.