MAR DE PALAVRAS E HIPOCRISIA - POEMAS
1. HIPOCRISIA
Hoje sinto o que sentias
Quando as coisas são arranjadas
E você, fora.
São coisas que lá dentro
Ficam estranhas.
E mexem com nossas entranhas.
E respiro fundo
E junto de mim
Mantenho o silêncio
E observo os homens e os filhos dos homens,
Como ficam nos arranjos
E querem ser atores
E não frios objetos
Deste sistema hipócrita.
13/02/2012 - Código do texto: T3496318
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2. Mundo: mar de Palavras
Vejo rios
rios de todo jeito
e a dor nesse meu peito
de saber que
não sou super, nem o deus Atlas,
apenas de per si
um poeta
a nadar nas palavras
entre imagens e atrozes/ dor traz
e duras lavras
garimpando a própria vida
em suas idas
e vindas
pelo mundo
afora
e dentro de mim.
24/01/2012 - Código do texto: T3458352
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A TORMENTA EXISTENCIAL – 03/07/07
3. FINCA O PÉ NA POESIA
Aqui está o poeta
Nada o faz perfeito.
Vê o mundo e seu defeito.
Por um triz
Quis ser feliz.
Nada o prende,
Nada o satisfaz,
De nada desfaz,
Nem de si e de sua gente.
Quer apenas amor e paz.
Quer flanar um pouquinho:
Os ouvidos se fecharam de repente.
Quer olhar nos olhos os filhos dos homens,
Quer conversar com quem passa.
Ele também passa!
4. CUIDADO
Que pirâmide horrível!
Que sociedade hipócrita!
Que desencanto meu ver
Enquanto bela a vida,
Decepciona-me
O bicho homem.
Prudência de atos e falas
Teus atos e talentos guardas.
Teus pés andam entre invejas
E, em cada curva do caminho, levas
Oculto teu brilho e as sombras.
Vejas que obscurecem teu caminho!
A mediocridade, agora te importuna.
5. O CEMITÉRIO DA CIDADE – 03/07/08
Até no cemitério há desigualdades.
Veja estas lápides e epitáfios!
Veja os túmulos em destaque,
Enquanto outros pobres e esquecidos arrastam chão.
Todos pedintes de oração.
Sacudo os pés e a poenta terra
Mancham meu sapato e calça.
Somos todos o enfado
E da vida que criamos
A cidade – cheia de arranha-túmulos
Quais pirâmides e bolsões de miséria.
Estamos fartos de tudo
Deslizamos os olhos a todo lado
Vimos que há também aqui nosso lodo.
Abaixo, temos o cuidado
De não escalar e espoliar os pequenos
Enquanto bajulamos os grandes e ricos
Com falso elogio cúmplice.
6. Pedofilia
O sorriso infante
Não mais existe naquele rosto maroto.
Está impune o brutal infame,
Arremeteu-se tosco
No berço em traços rotos.
Roubou-lhes a inocência
Para seu prazer doentio
Que tritura ao colo a flor linda do pântano.
Encharcam-se de cúmplices infernal
Que espezinha as vítimas silenciadas
Nas calçadas, favelas, campos e mansões...
Do fel, a meninada bebe a gota perfurante
Perfuradora, petulante e impertinente...
Até quando tais lobos foram o apetite inclemente?
Até quanto e quando?
Mas o maligno se alegra
Não se objeta
No mal que se enlameia sua pérfida gentalha:
- Ó Deus, ouve esse lamentos de seus filhos inocentes...
- Melhor, jogar-te ao mar em tua nódoa de pedofilia que inteiro queimar em outro lugar.
7. JOÃO-DE-BARRO – 03/07/08
O que foi contigo?
Não tens ainda tua casa?
E os grandes aproveitaram-se
Do status e cada qual rumo adentro tomou
Na vida e na fama.
Estás só, ao léu?
Abras o teu véu,
Obras o teu céu.
Vês que inda há galhos,
Deus ao pó fez o barro,
Mistura fina e perfeita de uma forma que não se repete
Nunca mais para te criar...
No entanto, sofres o nosso abandono.
Talvez, um dia, meu João,
Tua tão sonhada carne alce voo
E tua morada se faça em outro patamar.
8. ESPINHOS DA CARNE – 25 /07/08
“Livra-me destes espinhos em minha carne, Senhor” (São Paulo)
Quando nasceste, mundo, com espinhos,
Tiveste e foste ser feliz na vida.
Aprendeste driblar muitos diabinhos,
Vias brilho-saudade na partida.
O tempo jeito com anjinhos,
Corrosivo devir desta saída.
Suspiras, com anelos, por beijinhos,
Fingindo responder, mesmo ferida.
Procuras meios de não te contaminares
E desejavas-te verdade logo,
Tédio, com teu medo, contra a paz.
Rezas, buscas vencer todos os pilares
Caminhas cauteloso diante do fogo,
Tenha calma antes que tua vida jaz.
9. PIRASSUNUNGA – 25/07/08
Do lindo recanto paulistano
Imigrava seu passado;
Em tradições nativas,
Quando se fixou o lusitano,
Depois, veio o imigrante
E a fé no Senhor dos Aflitos
Pairou nestas paragens.
Ouve-se a ema nas cachoeiras,
Tintilam-se as aves entre laranjeiras.
O convite à oração retoma
A gratidão de seus filhos
Pela luta vencida por mais
Este dia!
Continua a canção das gerações
ao saudar a vocação altiva
De conquistas da terra, do comércio,
Rumo ao progresso a cada ano.
Seu cinturão verde lisonjeia
O avanço das quadras urbanas
Como a esperança gorjeia
O interior das almas tolerantes.
Em cada olhar, brilha o sol poente.
Em cada mão, firma o céu límpido.
Em cada pirassununguense, o porvir certeiro,
Parabéns por ser assim!
10. A CORUJINHA – 28/07/08
Pequenas, tão necessárias,
Nesta criação,
Camuflas a ponta de moirões
Dos perigos atentos ao gavião
Ou da serpe passarinheira.
Entre os campos e as matas,
Voas discreta e matreira,
Rodopiando certeira
Tua singular cabeça, com lentidão impressionante,
Cujos olhos nos atraem
Por serem perfeitos, amarelos, arregalados
Nas pupilas hiper-hipnotizantes.
E vê mais
Que as nossas aqui.
Escutas o ruído de camundongos
Ou pequenas serpentes e insetos,
São sua saborosa refeição
Diurna, vespertina e noturna.
Com teu pio característico,
Penetras a paisagens
Comunica a outros além
De nossa audição e visão limitadas,
Avisos de fugas sorrateiras e rápidas
Enamora a fêmea cativa
E modestas contrasta com outras aves atrevidas;