O Furo da Deusa

Talvez por não cumprir sua função integralmente,

E, aliás, não lhe determinaram função alguma,

Estava lá presente bem abaixo da cintura, da anca;

Por trabalho não bem terminado fez-se um furo indecente.

Furinho bobo, sem função e mesmo sem ter valor algum.

Secção fibrosa de agulha mal enfiada: um átimo, um triz.

Mas detestável se notado, estava lá botando banca,

Incomodando com certeza, mas sem razão nenhuma:

Como vestígio, marca, buraquinho, mal formada cicatriz.

Como viver feliz convivendo com imperfeição tamanha?

Furinho malvado a crescer se posta nádega em arrebite,

Se baixado o corpo na dança ou banhado na espuma do mar.

Plástica Medicina! Socorra a beleza pelo amor de Afrodite

Por demais bela condenada a sofrer e com maldição se olhar.

Com bisturi, seringas, bandagens, soros e hábil mão estranha,

Extirpa a praga, arranca a nódoa que com banha há de se tapar.

Renasça-se a pele, refaça-se o tecido, por artimanha profunda.

Ah deusa! - hei de exclamar pelo novo tempo e pela linda bunda.