Questão de Fé
Já que emprestada não nos serve a fé, em deus não acredito,
Cujas divinas questões me ultrapassam a capacidade de crer.
Por ser demasiado lógico e assombrado, com fervor medito
Nas duas mais básicas inconformidades de um humano ser.
A primeira é a grande frustração da vida, ou seja, a morte.
E em deus sempre se busca uma outra, que se houver amém.
Julgados e absolvidos se os pecados forem de pequeno porte
A recompensa prometida é crida em no quem vai, vem.
Assim seriam muitas vidas vividas, mas de precisão inútil,
Porque, afinal, somos aquilo que sentimos e sentir fazemos
O que carregamos na memória de ação prestimosa ou fútil.
Mas sem lembrar, de que servirão as vidas que por fé teremos?
A segunda é a estranha solidão neste misterioso Universo,
Cuja valia alimenta ciência em desesperada busca turística,
Criando fome e indo à Lua antes cantada em prosa ou verso
Agora sabida vazia, nem dragão nem São Jorge de espada mística.
Vamos lá a Júpiter, Saturno, Plutão de bem longe alçada,
Embora Marte nos tenha mostrado sermos vizinhos do nada.
Explicar, não explico. Razão porque em deus não desacredito,
Gostaria como Quintana, que ele acreditasse em mim,
Porque criador criou ciência e fé, criando em mim um homem aflito,
Certamente, juro por deus, afirmo, nem tão semelhante assim.
Materialista, em nome de deus, sou idiota da concretude
E da natureza primacial do ser, sei apenas que existo
E ignorar o que sou, de onde vim ou vou, é minha atitude
De particular metafísica, acreditar ou não, a ambas resisto.
Como um advogado, exercito sofismas, mas de boca torta
Pelo costumeiro cachimbo de só crer em havendo provas.
Minha vida é tal qual um processo em que a fé não importa,
Nascida foi em berçário e se destina a acabar entre covas.
Mas, na vida ou na morte, sempre se tem um porém.
Que minhas dúvidas não perguntam o que será, foi ou é.
Mas não me impedem (será por deus?) prosseguir de mim além:
Amar você, minha nova mulher, tornada minha derradeira fé.