DEPREENDER PENSAMENTOS: A SOLTURA DO ENTENDIMENTO [ou iluminismo do desapego

Essa noite tem cheiro de desprendimento

Uma solidão curiosa espia pela janela

Essas luzes de sódio não têm a cumplicidade

Das lâmpadas de mercúrio.

O vento é vago

Não toca nem beija

Mas um aroma adolescente

Invade a sala.

Uma música parece soar distante

Enviesada como a valsa húngara

Cujo baile moveu-se

Dos salões da memória

Partindo pela via estreita

Donde se ouvia o salto

Ébrio do sapato ranger

Dois passos, um trote de equilíbrio...

Ops!

O solo é raso,

Agrupado de pedras.

Preferiria o cascalho

Com sua (per)feição campestre.

Não batera à porta

Não chamou.

Era domingo

Não havia expediente.

Estrelas faltantes

Estômago licencioso

A liberdade se alastrou

Tomou voo pela esplanada

Durante a noite de desprendimento

A melodia, matéria vibrante,

Na qual eu havia, sem notar, me imergido

Selou-me em notas amadeiradas e cítricas

Denso orvalho eu respirava

Fluía...

Visitei alguns países, rios, museus,

Casas comuns e mobiliadas

Só não via gente aos arredores.

O mundo estava solto

E o arranjo da música,

Cujo estilo e ritmo eu ditava

Emanava do meu peito

Devagar, alto, devagar

Alto, baixo, depressa...

Grave, agudo, grave

Estridente, confortável.

Retornando à sala,

Leve de mim e levado assim

Causei espanto ao escritor

De longos cabelos

Que matutava à janela

Pela madrugada contínua

De segunda-feira.

Elmer Giuliano
Enviado por Elmer Giuliano em 25/07/2017
Reeditado em 25/07/2017
Código do texto: T6064773
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