Lesma do banheiro

Dentro do banheiro algo se mexe,

Vai se rastejando sem vacilar.

Sua viscosidade me faz refém

Por alguns minutos de limoso eflúvio;

Janelas úmidas;

Virações plenas, constantes;

Azulejos mórbidos grudados

Em meus pés largos!

Bosta misturada com urina na borda

Da privada desvairada, que absorve

Paredes de concreto ensolarado.

Quase morrendo

Sinistra e

Colossal.

Lesma do banheiro indolente,

Posso ouvir e não esquecer, lá do teto

Que vai afundando feito areia movediça,

O Rei Lagarto!

Garanto meu dia insolúvel.

Minha antena cresce,

Capta essas aspirações

Densas;

Lesma do banheiro, você deixa meu

Beijo úmido e grave,

Você quebra o espelho que não reflete,

Seu rastro fica na pele que reluz,

Seu rastro pálido eterniza o amanhã.

Lesma do banheiro,

Você desliza-se sobre

O outono;

Crava sua presença no marasmo.

Lesma! Minha deselegante,

Minha insuportável,

Minha inglória

Lesma!

Ele marca esse banheiro e esse dia

Glacial com seu beijo viscoso;

E deitado no azulejo mórbido fico

Olhando para o teto e

Sentindo a baba que cai

E escorre em minha fronte:

A baba do Rei Lagarto.

André SS
Enviado por André SS em 24/07/2017
Reeditado em 07/08/2018
Código do texto: T6063575
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