Lesma do banheiro
Dentro do banheiro algo se mexe,
Vai se rastejando sem vacilar.
Sua viscosidade me faz refém
Por alguns minutos de limoso eflúvio;
Janelas úmidas;
Virações plenas, constantes;
Azulejos mórbidos grudados
Em meus pés largos!
Bosta misturada com urina na borda
Da privada desvairada, que absorve
Paredes de concreto ensolarado.
Quase morrendo
Sinistra e
Colossal.
Lesma do banheiro indolente,
Posso ouvir e não esquecer, lá do teto
Que vai afundando feito areia movediça,
O Rei Lagarto!
Garanto meu dia insolúvel.
Minha antena cresce,
Capta essas aspirações
Densas;
Lesma do banheiro, você deixa meu
Beijo úmido e grave,
Você quebra o espelho que não reflete,
Seu rastro fica na pele que reluz,
Seu rastro pálido eterniza o amanhã.
Lesma do banheiro,
Você desliza-se sobre
O outono;
Crava sua presença no marasmo.
Lesma! Minha deselegante,
Minha insuportável,
Minha inglória
Lesma!
Ele marca esse banheiro e esse dia
Glacial com seu beijo viscoso;
E deitado no azulejo mórbido fico
Olhando para o teto e
Sentindo a baba que cai
E escorre em minha fronte:
A baba do Rei Lagarto.