MONÓLOGO TEMPORAL
Eu sou o tempo
Em silêncio vou passando
E você perguntando
“Por que passa tão depressa?”
Não me apresso
Vou apreciando a pressa com que caminha
Com seus passos apressados
Sem notar a tarde chegando
De uma manhã que se recolhe
Se me vir passar tão apressadamente
Não sou eu quem encurta as horas, quem reclama
Tenho sido o tempo presente e suficiente
Não retardo nem avanço em meu ritmo
De longe já me olha antecipando a hora
Mordendo as unhas e fazendo premunições
Eu sou o tempo
Não repouso em cobertor
A mim cabe o véu do olhar noturno
Enquanto brinca com seus sonhos
E segredos na fronha do travesseiro
Sigo sem conhecer os ponteiros
Que determinam a medida do tempo
Se eles pararem, não deixo de avançar
Saberá quando me dizer
Bom dia! Boa tarde! Boa noite!
Não inventei os doze divididos em estações
Nem das luas belas ou nuas
Giro no centro do eixo invisível
Vestindo muitos trajes com medidas
Posso dizer que sou o vento e a chuva
Quando me bebe e respira
Sabe que deles não pode saciar
Sua vontade famélica
Estarei sempre em transformação
Contada em seus milênios
Eu sou chamado de invisível
Já que não sou matéria que pode tocar
Mas pode saber nos ponteiros
Em que hora marcou seu encontro
Enquanto vou passando sem espera nem demora
Eu sou o tempo
Por onde passam vida e morte
Nas boas-vindas de chegar
E nas lágrimas no momento de voltar
Castro Rosas