NUANCES DA NOITE
Aquela cova já estava aberta,
A lua clareava cada medo,
Eu abria aquele sepulcro com minha boca,
Enquanto olhava a lua e suplicava por mais um suspiro no vale da paz,
A escuridão de suas maldades prendia meus cabelos em sua mão,
E eu gritava ao avesso, navalhando o que sobrara do coração.
A lua se compadeceu e começou a chorar vendo aquela cena,
Ele de quem só vi a sombra, me abandonou à beira da cova que eu mesmo cavei,
Eu estava quebrado por dentro, em vendavais de desespero,
A sombra mudava sua inclinação aos passos da lua,
Não podia acreditar que ainda estava vivo,
Eu vi o outro lado me chamar, achei que este seria o fim.
Eu estava à beira do sepulcro, partido em mim mesmo,
O ódio ainda estava doendo, era a maldição daquela noite,
Eu sonhava com aquela escada para os céus,
Para fugir dos desatinos daquele estranho que estava no caminho, agora na contramão,
Mas meu anjo não estava descendo para me salvar,
E a cova ainda estava aberta diante de mim.
A lua se virou para não olhar, e eu era como a luz da estrela,
Pequena em tanta escuridão,
Brilhando na escuridão, gemendo o socorro...
Eu era como a última flor no inverno,
Pequena em meio ao frio,
Tentando colorir em meio aos tremores, com as pétalas surradas.
Alguém que vinha da escuridão viu o pequeno brilho e o seguiu,
Se aproximando em passos lentos,
Tentando entender a voz calada que fazia os olhos suplicarem,
Mas a boca que abriu a cova, estava com medo de abrir as portas,
E revelar os sentimentos que estavam sendo velados como moribundo,
Era o velório de um “eu” que morreu sem perder a vida.
Então ele que veio, mostrou as nuances da noite,
Onde aquele universo manteve a luz de uma pequena estrela,
Que mesmo em sua delicadeza ferida se fez farol de outro perdido,
E se manteve a brilhar, sem ser constelação,
Mas que foi luz, única luz,
Que atraiu o coração de quem iria o acompanhar naquela noite, até seu dia clarear.