Versejando com a grande Florbela Espanca
Eu …
Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho,e desta sorte
Sou a crucificada … a dolorida …
Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!…
Sou aquela que passa e ninguém vê…
Sou a que chamam triste sem o ser…
Sou a que chora sem saber porquê…
Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!
FLORBELA ESPANCA
E eu...
Vivo no meio, escondida
Torno-me invisível sem o ser
Desistindo de um par, de outra vida
Aguardando apenas o que tiver que ser...
Não me vejo flor, nem tão pouco bonita
Nem sou olhada, sou esquecida
Cheia de erros, segredos, pecados
Época boa foi ao ser menina...
Sorrisos espalho, mesmo sem querer
Lágrimas escondo, não deixo ver
Sou alguém, sou pequena, sou a pedra
Que tropeçam e mesmo assim não vêem;
Mesmo que espere por anos
Mesmo que a esperança ainda teime
Sei que não encontrarei ninguém
E ninguém irá encontrar-me! ISABEL T. CARDOSO