Afasta de mim esse cálice


Já não mais quero provar em sua taça
A dissimulada cicuta que ora me serve,
Com que me sufoca, deprime e avilta...
Já não suporto ver diluírem em fumaça
meus planos com o ardor de sua verve,
com essa sutileza que em mim se infiltra...

Já não mais sugarei as gotas do néctar
E ser prisioneiro de falsos feromônios,
Ávido por sorvê-los todos, por inteiro...
Já não suporto ver em sua face o esgar,
Ao ser transmudado de anjo em demônio,
E seus lábios exibindo sorriso zombeteiro.

Já não mais me acolherei em seus braços
ou mesmo colherei sua lágrima com beijos,
nunca mais a despirei de sua blusa...
já não suporto ver de seu corpo só os traços,
aplacarei em mim todos inconclusos desejos,
cederei enfim à perfídia que de forma vã, usa.

Afasta de mim o cálice com que me subjuga,
Com que tripudia desse que tanto lhe ama,
exibindo-se para mim e mantendo-se distante...
já não mais suporto sentir a forma como suga
evitando sorver todo o néctar que reclama
ao ver desperdiçado, bem diferente de antes.
LHMignone
Enviado por LHMignone em 15/07/2017
Reeditado em 23/04/2019
Código do texto: T6055539
Classificação de conteúdo: seguro