Brado solitário
Pois sou único
E um brado forte não se faz sozinho
E mais do que nunca a comunhão parece falhar.
Fico triste
E sei que minhas ações são irrelevantes
Pois como a agulha no palheiro
Sou ofuscado por tantos outros que apenas ficam lá.
E sei que destes, muitos anseiam o mesmo que eu;
Questionam o mesmo que eu;
Lamentam o mesmo que eu.
Mas todos, senão implorar, farão o que?
Pois a voz parece muda e os ouvidos congestionados.
Há caos por tantos lados
Que por vezes pareço ilhado na minha impotência.
E prepotência eu assisto o tempo todo
Estão nas falas, estão nos rostos
E me enche de desgosto
Dividir o espaço com tanta gente.
Pois este espaço morre e a culpa é nossa.
E é infeliz, mas a verdade é que parece terminal.
O mero prazer carnal valida tanta maldade
Que deixo de entender a humanidade como benefício
E enxergo como uma maldição.
Por ela nós matamos e morremos,
Nós destruímos e corrompemos,
Numa corrida que só nos leva para o fundo
Que tanto queremos evitar.
Diariamente a maldade abre espaços,
Preenche, dá cadência e compasso,
Para valsarmos com sorrisos largos
E olhos voltados contra o resultado
Da nossa vaidade.
Não te parece sádico?
Autonomia para ser autônomo
Subir ao trono e reinar sobre tantos outros,
Dar-se o poder de decidir
Qual das vidas matar e qual delas redimir
Baseado apenas num egoísmo intrínseco
Que não se observa em lugar nenhum
A não ser no erro que fomos todos nós.
São tantas coisas;
São tantas dores;
De horrores estou farto.
Por favor, encerrem este fardo,
Pois fui enganado quando me disseram ser presente.
No momento, é indiferente se tenho importante função
Se tenho tantos anos, se tenho bom coração.
Existe uma palavra que ecoa nos ouvidos meus:
Adeus.