QUANDO FUI POETA EM DIAS MAGROS

Traduzo nas letras uma coceira interna

Um vendaval de coisas sem muita forma

Cativas num dia magro...

Coloco tinta em pulsações febris, aquelas de suor e lágrimas e sangue e cinza

Fiz tais citações pra valer meu esforço tolo

Quase sem perceber soltei as feras

Tão mortas, embora rastejantes

Não, não fui coerente...

Quem sabe viva de brisa os que escolhem essa estrada

Talvez seja melhor calar e deitar minhas ferramentas num lençol amassado

Aconchegante e velho, como os da cama da mãe...

Fiz essas escolhas muito entorpecido, nem sei se elas tem valor ou marca...

Mas soube trazer um pouco de estilo em meio aos rios de pompa inútil

Olhe, me perdoe por isso, sei bem o resultado!

Tais corações suportam muito... contudo se inflam e depois murcham

Não me cabe ser uma voz coletiva

Pretensão e volúpia até tenho... quando sumir elas provavelmente virão antes

E farão uma bela mortalha

E as palavras, todas elas em coro, farão as honras num céu de brigadeiro

Ao bom e manco padrasto delas.

Caio Braga
Enviado por Caio Braga em 08/07/2017
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