Um sonho lúcido
Eu podia ver meu rosto refletido
em seus óculos, e seus olhos me perscrutando.
Ela sorria, com o canto da boca tentando disfarçar
um pouco da tristeza. A tristeza era minha e não dela,
eu sabia.
Ela pegou minha mão e disse que ia dar tudo certo
que eu ia ficar bem
e riscou um carinha feliz, com uma caneta
sobre minha pele.
Demos o abraço mais demorado da minha vida
e a partir dali eu já sabia que se tratava de um sonho.
Caminhamos de mãos dadas por um gramado, e chegamos a uma praia
praticamente deserta.
Ela me fez sentar na areia e ficou fazendo desenhos com o pé ao meu redor.
Desenhou uma carinha com um grande sorriso.
Parou bem a minha frente e disse.
“Vem”, com as mãos estendidas.
Corremos até a linha d’agua e ela me falou sorrindo
“Você não vai se afogar se entrar no mar”
“Eu sei” – respondi.
“Você não vai sufocar se voltar a amar”
“Já não tenho essa certeza”
“Mas eu tenho” – Ela disse, tapando meus olhos com as mãos.
Fechei os olhos, e quando abri, ela não estava lá.
Eu estava parado e só, com os pés dentro d’água.
vendo o sonho se desfazer e o sol entrando pela janela do meu quarto
me dizendo que já era de manhã.