Um mundo concreto

Minha casa é toda cimentada

embaixo da cama, e na escada,

lá não tem minhoca, nem marmota,

meu calvário é impermeável,

acho tudo lamentável,

não posso pisar na terra,

guardo terra nos vasos,

não para plantar flores,

mas, para sentir, por acaso

o cheiro da terra e seus favores

minha casa não tem ervas daninhas

eu não me sujo sob as unhas,

nem tem ervas minhas,

nem plantas com alcunhas

minha casa não tem colibris

não têm o que fazer ali

não tenho planos abstratos

ninha casa é de concreto

já disse, lá não tem mato,

nenhum vaso é meu predileto

meu santuário também tem cimento

tem feitio de convento

lãs os santos não prometem

e de milagres se abstém

são iguais o alicerce, piso e telhado

lá é um cenário parado

paliativo, deixo sobre o tapete a sujeira

não deixo limpar a poeira

Roberto Chaim
Enviado por Roberto Chaim em 02/07/2017
Reeditado em 02/07/2017
Código do texto: T6043213
Classificação de conteúdo: seguro