Um mundo concreto
Minha casa é toda cimentada
embaixo da cama, e na escada,
lá não tem minhoca, nem marmota,
meu calvário é impermeável,
acho tudo lamentável,
não posso pisar na terra,
guardo terra nos vasos,
não para plantar flores,
mas, para sentir, por acaso
o cheiro da terra e seus favores
minha casa não tem ervas daninhas
eu não me sujo sob as unhas,
nem tem ervas minhas,
nem plantas com alcunhas
minha casa não tem colibris
não têm o que fazer ali
não tenho planos abstratos
ninha casa é de concreto
já disse, lá não tem mato,
nenhum vaso é meu predileto
meu santuário também tem cimento
tem feitio de convento
lãs os santos não prometem
e de milagres se abstém
são iguais o alicerce, piso e telhado
lá é um cenário parado
paliativo, deixo sobre o tapete a sujeira
não deixo limpar a poeira