O canto de Marco Leandro
Anda Marco na madrugada,
pós noite fria tua voz acaba.
Anda Leandro no alvorecer,
o ressecado sangue é novo ciclo.
Anda Marco Leandro,
no campo dos girassóis.
Pela manhã Ana
(de quem roubara a primeira flor)
violeta-o a lembrança
que agora é serena e clara;
Mas Marco inda procura na calçada.
Pedro se basta em olores suaves,
Gabriel colhe as amarelas
e Amélia, que é feliz com orquídeas;
Mas tu sabes bem o que lhe agrada.
Num momento a escolhe,
e por um instante a agarra.
E agarra nessa garra
que intrinca,e finca, embaraça
e envolve,enredam e rasgam,
e ri,
e chora,
e geme,
e clama,
e é tanta trama
pra um fim, tão apócrifo.
Quanto sol e quanto pranto,
esvermelhou na encantadora rosa
antes que fosse de seu encanto ?
A flor fica intacta,
enquanto Marco Leandro
cambaleia bêbado da essência
que ele próprio catalisara.
Incapaz de traze-la à jornada,
ele volta de volta ao canteiro
onde canta seu canto
o mesmo canto,
na noite fria:
"O sangue escorre,a lágrima circula,
eu acharei minha rosa nessa espada nua."
Mas na dor, sorri.
E o que dói nem dói tanto,
quanto a imensa dúvida lenta
que flui ao sangue num pleno sozinho:
Seria a paixão pela flor,
ou espinho?