Desmotivos
Veio em uma quarta a tarde,
fim de tarde,
das minhas tardes que não tem começo.
Veio de um amigo,
um bom amigo,
Veio sem preço e com apreço:
"Cara, porque você tá tão triste?"
E eu não soube,
não soube o que dizer.
Eu não estou triste pelos desencontrados,
pelos mendigos, pelos viciados,
pelos idosos nas ruas, pelas prostitutas
pelos doentes e pelos famintos.
Deles doí-me em pena, e deles doí-me a culpa,
pois eu não estou triste por isso.
Eu não estou triste devido a violência,
a Guerra da Síria, as guerras santas, as frias
por mães sem filhos devido a mãe das bombas,
por um "Estado" que decapita crianças.
É tanta barbárie, sangue e desesperança,
que arde.
Me dá vontade de vomitar,
mas eu não estou triste por isso.
Eu não estou triste por causa da injustiça,
de uma justiça que mata como pena,
de uma justiça que mata porquê é pobre;
porquê o rico é o novo nobre.
Nem pela perseguição daquele que não compra,
nem a perseguição daquilo não vende e não acumula,
pela nova onda desse conservadorismo velho,
com campo de concentração pra gays na Rússia.
Tudo isso fere,pira, tira do sério,
mas eu não estou triste por causa disso.
Eu não estou triste pelo artificial.
Por esse plástico que envolve todas as coisas,
pelos perfis bem definidos na internet,
mas tão indefinidos aqui dentro.
Pela fumaça e pelo cimento; pelo lixo
A gente produz mais lixo que amor.
Nem pelo Netflix em sexta-feira,
pelos descolados nerds que tudo compram,
pela juventude agora domesticada,
pela pornografia, infantil,
pela escravidão, infantil,
e pelas infâncias descontinuadas.
Isso me coça, isso me impregna,
mas eu não estou triste por causa disso.
Por que eu percebo, ao afrontar o espelho,
que tudo isso é desmotivação,
e não motivo.
Se não fosse esse reflexo de promessa morta.
Se não fosse o ego, e esse egoísmo,
então talvez o mundo...
É... talvez até o ódio e o capitalismo
passariam.
Será?