Numa tarde memória
As horas passam e tudo passa e vai passando
Buscas completas e dementes em cada minuto acontece
Em vão se pede, se chora, se aquece e não se percebe
O que dedicamos a nós mesmos senão grãos de palavras?
Há o dedilhar do acontecimento e da reprise vital
Afinal aqui estamos e porque não ficamos aqui?
Rompem-se os fios da navalha corrida na pele invisível
Cortes profundos e não visíveis a olho nu estão presentes
Dementados tantos são os que em nenhum corte percebe.
Loucuras vividas, amargas vivências que enlouquecem
Buscam e não encontram porque somente acontecem
Horas escravas esperam nesta torrente embalsamada
Chicotadas do tempo presente na carne navalhada
Escorrem-se sem perceber os cortes profundos, rochosos.
Chicotadas são vidas mortas que um dia vida viva teve
Teceu uma luz, abraçou um vulto na escuridão do vazio
Perdeu a esperança, escorregou na lembrança feito criança
Viveu, cresceu, lutou, chorou, sobreviveu e por fim, morreu.