RECORDANDO

RECORDANDO

O chão era de terra

Os pés andavam descalços

A cabeça nas nuvens

O mundo um quarteirão

O campinho um tesão

O pé calçado um passo (doble)

Ou um Kichute ( no saco )

Não poder ir descalço

A aula um silêncio

O recreio um dissenso

Um cuspe pra lá

Outro pra cá

Uma briga apartada

Uma bolinha roubada

E o sinal enfim

Hora de voltar pra casa

Pé no chão

Arroz com feijão

Banana com pão

Lição ( de casa )

Bola de capotão

Duas pedras e um gol caixote

E o correr liberto

Marcar um gol esperto

Até o “é hora de entrar”

Que merda banho tomar

Um livro pra sonhar

E acordar no dia seguinte

Como um radiouvinte

E cenas imaginar

Até calçar de novo os pés

Tomar um leite com café

Um pedaço de pão amanhecido

E ir estudar o desconhecido

De novo no grupo escolar

Responder presente

Estando ausente

“Ter raiva do nome começado com A”

“De Arnaldo queria me chamar Zoroastro”

No silêncio

E acordar no inferno

Quando ouvia

Fulano na lousa

Aí pegava a cousa

No coisinho

Que queria sair de fininho

Antes do final

Fessora posso ir lá fora

Ir embora

Voltando com a orelha ardendo

E sem poder podendo

Escrever 100 vezes

“Não devo ir embora da escola”

E pior de tudo

Ficar engaiolado sem bola

Que sofrimento

Ainda bem que são outros os tempos

Mas bem que noutros tempos

Não existia a saudade

Que hoje é “presente” e verdade

Arnaldo Ferreira
Enviado por Arnaldo Ferreira em 25/06/2017
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