AO BRASILEIRO QUE, VESTIDO DE PAPAI-NOEL, NA QUINTA AVENIDA, SENTIU UMA DESESPERADA VONTADE DE VOLTAR AO BRASIL, EM PLENO NATAL, POR CAUSA DE UMA SAUDADE INCONTROLÁVEL DAS MELODIAS DO ASSIS VALENTE
ou seja – Anoiteceu –
próximo à quinta avenida,
um filho do Assis,
com uma vontade louca de comer feijão com torresmo,
sente uma gana insana de matar o idiota que inventou Papai-Noel
frio,
o frio combina tanto com esta roupa tão vermelha e branca
[imbecil]
que a neve que cai,
só alegre cai
aos que ouviram o Natal Branco, do Irving
sapatinho na janela do quintal?
coisa besta – pensou
o filho do Assis
que sente saudade de abrir um queijo Palmira, brasileiro,
com o canivete importado do tio Mário,
de ver a prima Aída feliz por ter ganho uma caixa com três sabonetes,
ao ver os irmãos de Pátria,
de cidade, de bairro, de esquina, vizinhos de casa
a brincar com meninos de rua
[juntos, mais que juntos]
com os tão pouquíssimos presentes,
agora, comunitários.
[a miséria de lá é só um pouco maior que a daqui]
sou filho do Assis,
o suicida,
[compositor, poeta, baiano, iludido]
que – bem distante da quinta avenida – tomou formicida,
certo de que Papai-Noel jamais teve filhos.