Oração a Abraxas

Dentro de mim há uma infinitude de dessemelhantes entidades.

Um dia sou donzela imaculada embalada em alvas vestes de seda

Outro feiticeira mãe e filha de Maya, e nela costuro-me de eternas mandalas de vida.

Perante ao sopro crepuscular sou corpulento homem, robusto e ébrio, pai da honra e do mundo de mim mesmo.

Se sob a luz estival sou equilíbrio

Na brisa hibernal torno-me premência e avidez e Ego.

E quando em humildade tanjo aos braços de Deus

Tão logo demônios devoram-me

E regem toda a amplidão do meu ser

E exibem-me aos seus domínios infinitos.

Se mergulho em oceano de paz e em leves nectáreas correntes delicio-me de júbilo profundo

Em ínfima posterioridade temporal perco-me em turbulências desesperadas e jamais domináveis.

E se por aluna resignada aprendo venturosa a respirar

Atrevo-me a haurir uma hóstia de ar e sufoco-me em mim.

Inerte sinto as dores do mundo

E fecundo a cinese do Universo para então

Encastoada em redundância,

Aniquilar a súplica individual e

Anular sem jurisprudência a existência do sentir.

Sigo como em vôo intrépido o rastro dos devaneios

E quando dele tomo as rédeas e

Vanglorio-me por sujeitar com imperiosidade

Tal fera indômita e voraz,

Torno-me dela escrava

Impotente silenciosa e subalterna.

Dentro de mim habita e devora-me as entranhas

A perpétua existência da totalidade.

E da comunhão de extremos

Da humilde dissolução do perene e do efêmero em etérea unidade

Fecunda-se a essência plena do Todo.

Nicolle Ramponi
Enviado por Nicolle Ramponi em 23/06/2017
Reeditado em 23/06/2017
Código do texto: T6035159
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