A efêmera consumação final
Escrevo para expelir de mim tudo o que me afoga
tudo o que impede-me de viver a plenitude do agora.
Tudo o que engolfa minh'alma em escuridão profunda e nauseante de dúvidas
de devaneios incontrolados e incontroláveis.
De insatisfações borradas e passos dilacerantes que explodem
em velocidade infinita que não permite-se em sã existência
acompanhar.
Escrevo para vomitar um pouco desse excesso de vida que me devora.
Dessa exorbitância de mundo que não aquiesce a si próprio a uma perfeita contemplação. Que insiste em vestir-se de vastidão.
Muito mais do que aquilo que o homem sem plena presença e compreensão da consciência Nirvânica pode deglutir.
Escrevo todo o desentendimento que em mim rubrica-se e perpetua-se (em segundos de grafia profunda e perene no cerne do espírito) como oceano de cegueira e solidão no extremo das multidões enfadonhas.
Toda a ausência de saídas nos átimos de sagacidade orientada às aspirações ao êxodo eterno.
Toda a impotência. Toda a fraqueza. Toda a epopeia traçada na audaciosa investida de subir à superfície para tanger alguma porção de [rarefeito] ar, mas que obrigam a uma aventura nas sinuosas e avultadas ondas que governam esta intersecção entre os Mundos.
Escrevo até degustar o contingente alívio que provém do saber que de mim escorreu toda a jamais categorizável miscelânea de sentires.
E com esse infinito mortal alívio, filho e servo de Samsara, permito que esvaia-se também todo o impulso criativo e todo o suspiro materno da Criação.
Entrego-me ao desafogo. Permito o desfrute das efêmeras estadias em plena serenidade e contentamento do que foi concebido.
Tudo está consumado.