sacro

não são obscuras

todas as coisas sagradas?

o altar imponente,

a catedral pesada,

as imagens douradas.

sim, são mórbidos

os ambientes sagrados;

prenhes de culpas,

sacrifícios, desejos, arrependimentos.

prenhes de silêncios de nós mesmos.

narcisos perante os espelhos dos deuses,

nos julgamos muito perante tão pouco.

e se te falo de ritos de sangue e lágrimas,

nem por isso sou menos sagrada.

nem por isso somos menos sagrados.

meu misto paganismo

origina minha crença, minha dança,

e tudo quanto sou: escarlate de ímpetos e entranhas.

extremada, não me ajoelho a qualquer deus.

poderias me julgar

uma verdadeira parafernália.

mas ainda assim

não menos sagrada.