JÁ SOU QUASE UM SANTO

Acho que sou mesmo
Este louco desvairado
Nada comedido, como quer a boa razão
Inconstante, delirante, claudicante,
Ou qualquer que seja a definição.
E por tanto, no entanto,
Já sou quase um santo
Pra horror, talvez espanto
Dois vitrais da procissão.
E sigo eu, incompreendido
Entre lágrimas, entre risos
Na legião dos esquecidos
Mas nas calçadas eu vejo Cristo
Ardendo em febre
Que de tão louco, eu insisto,
Grita um grito de clamor, de dor, de compaixão.
E por ai ainda tem gente
Que se diz tão inocente,
Bate no peito esses dementes,
Pra no seu julgo, lavar as mãos.
É. E eu que pensei que a covardia,
Na lama que corre o dia
Na imensidão de mãos vazias,
Fosse apenas inanição.
Pra meu espanto, não compreendo...
Como existe gente sofrendo
É de falta de emoção.
É. Acho que sou mesmo louco...
Vou dar mil gritos
Nem que seja pra ficar rouco,
Porque, de tantos loucos,
Eu sou um dos poucos
Que ainda não chora em vão.
Agamenon Almeida
Enviado por Agamenon Almeida em 11/08/2007
Código do texto: T603192
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