ENXAQUECA

Posso me liquefazer

E escorrer assim

Por entre os teus dedos

Antes cedo que no fim.

Abruptamente tendencioso,

Orgulhoso de nada,

Enfadado em querer ser

Sempre esguio e leve.

Alquebrar por uma dádiva,

Obscura e carnal.

Como se de uma torneira seminal

Ouvisse seu tilintar

Da pia da cozinha.

“Enxaquecando-me”,

Num tumultuoso empenho

Cavando em mim

Minha própria cova oca,

Erguendo sim

Meu próprio estandarte mortuário

Meu ledo e breve existir.