Descoberta da poesia
Uma certa manhã, bela manhã por sinal,
estava o menino em sua simples casinha.
Sua mãe, a cantarolar, preparava o café na cozinha.
No velho rádio, Drummond recitando
seu antológico poema "José".
Aquilo aguçou a curiosidade do menino,
o deixando de orelha em pé:
- Mãe, que voz é essa no rádio, o que está dizendo, quem é?!
- Não sei meu filho, desculpe... se apresse, venha tomar seu café.
Terminou o café,
pegou a mochila,
montou na velha bicicleta
e rumou à escola.
No caminho passou pelos amigos,
que de pés descalços,
no chão batido,
jogavam bola.
E no decorrer dos dias
a lembrança daquele episódio
ainda lhe acometia.
Perguntava a quase todos que conhecia,
mas ninguém responder-lhe sabia.
Até que um dia na escola
sua curiosidade venceu a timidez,
esperou que terminasse a aula
e foi perguntar à professora de português.
E então teve a resposta
que há tantos dias queria,
ela olhou fundo em seus olhos,
e lhe disse: - É poesia.
"Poesia, poesia, poesia..."
- Pôs-se a se indagar:
"Afinal, o que é poesia?
Pra que ela serve?
A quem ela serve?
Que explicação a mesma teria?!".
Depois de um tempo o menino percebeu
que a poesia não precisava de um por quê,
que era algo que não carecia explicação;
que o que importava mesmo era senti-la
no mais profundo âmago do seu coração.
O menino crescera e a sua paixão pela leitura aumentou,
passava horas a fio na biblioteca da escola,
lia todos os livros da casa do seu avô.
E ainda lembrava daquela manhã,
daquela bela manhã;
na qual mesmo sem saber havia
se apaixonado perdidamente
pela poesia.