FRAGMENTOS DO PASSADO.

Na parede da minha casa

tinha um berrante dependurado,

meu pai não tinha gado,

eu olhava o berrante e sofria

a dor do meu pai,

os bois reuniam-se na minha

imaginação,

meu pai , aos domingos apos

o café com quitanda,

pegava o berrante e o fazia

ecoar,

depois, jogava milho para as

galinhas,

eram centenas,

o galináceo varriam o terreiro

com bicos e unhas.

depois ele , meu pai ia a horta,

pegava a melhor verdura,

e colocava na fonte sob as águas

da bica,

eu o acompanhava nesta rotina,

ele ia , pegava o frango debaixo

do balaio,

eu pensava, hoje terá carne,

frango ensopado,

saia de perto nunca gostei de

ver o ato da morte,

minha mãe a esta altura arrumava

a pequena casa,tirava as teias

de aranha e abria as janelas,

eu olhava o berrante dependurado,

meu pai sonha ter gado,

precisava decifrar minha dor,

um dia perguntei-o,

porque o berrante ,

ele me disse , o berrante é a cara

do sertão,

entendi então que meu pai,

não tinha as ambições que me

cortava,

ele me respondeu sereno,

eu gosto mesmo é ter vocês,

viver é transitório, e o tempo

não pode ser perdido em divagações,

um vizinho chegou para levar milho

ao nosso moinho,

então mudei meu pensamento,

fomos para o quintal,

pegamos frutas, jogamos fubá

para os lambaris do córrego,

e assim a manhã lentamente

foi indo,

minha mãe então veio a janela dizer

que o almoço estava pronto,

subimos ao altar do lar,

saciamos a fome,

mas o berrante ainda está

dependurado nas paredes da

minha alma,

como um sonho não realizado,

meu pai conta seus oitenta janeiros,

com a mesma grandeza de

outras eras,

eu estou no caminho tentando

alcançar esta leveza de não

querer acumular o mundo

para depois partir.

Divino Ângelo Rola
Enviado por Divino Ângelo Rola em 11/06/2017
Código do texto: T6024324
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