TODA CRIAÇÃO É ARTE
Os olhos do sol veem o dia nascer
Os olhos da lua veem a noite descer
Os olhos das criaturas veem ambos findar
Já a criação, esta tem olhos só para amar
Os olhos solares
No despontar do dia
Clareiam os céus e os mares
Nas manhãs vestidas de galhardia
Os olhos lunares
No desmaiar do dia
Deitam sobre todos os lugares
Gotas de sereno e serena nostalgia
Os meus olhos nunca se cansam
Depois de luzidios amanheceres
E de sombrios anoiteceres terem visto
Sempre procuram os renovados prazeres
Das visões novas deste velho aprisco
Onde todas as ilusões finadas descansam
Trazem consigo os fulgores
Das estrelas que ao longe cintilam
Os olhos lunares
Os olhos solares
Quando no horizonte se retiram
Levam consigo os ardores
De outono a outono
No curso do tempo andarei
Mas como a vida é um trajeto curto
Quando me fugir por certo o futuro
Não me deixarei espavorir
Diante da face ignota do porvir
Será na eterna luz que viverei
Redimido da escuridão do abandono
E assim tomado pelas mãos da paz
Direi ao carrasco da solidão: nunca mais!
Criativa é a Onipotente Inteligência
Que imaginou as obras de arte conhecidas
As poesias tantas vezes lidas
Do livro inexplicável da existência
Claros e escuros são os tons da universalidade
Na mutação de cenário: de claros dias
Para escuras noites, de escuras tristezas
Para claras alegrias... será isso poesia?
Dias e noites são os atores da temporalidade
No teatro da natureza em generosa profusão
Serão estes (com cartesiana certeza)
— Sem ofensa à soberana razão —
Os temas favoritos da Divina Poética
Ou serão simplesmente palavras antitéticas?
Não sei, e pouco me importa se o gratificante
Na vida é o muito pensar
Todo pensamento que chega logo parte
Não sei, mas às vezes acho que o importante
Na vida é o sempre criar
Toda criação é arte