Travesseiros empedrados
Hoje meu sono está arisco
teima em ocupar seu posto
parece que tem medo de mim.
Fico virando na cama sem rumo,
os pensamentos rodopiam libertos,
as ideias são cuspidas desnudas,
minha alma rasga seu casulo sem dó.
Hoje me descubro mais Quixote pra preencher os degraus do meu cadafalso,
brinco de roleta russa com os quintais da minha solidão,
viro super-homem só assustar às vagabundas que vêm abençoar meu suor enferrujado.
Então deixo escapar uivos ressecados que mal se ajambram num desafinado réquiem,
faço esquecer meus coices e fantasias das divas de mim,
morro um pouco num gargalo encharcado de sangue vencido.
Vejo Deus sentado ao meu lado teimando em não arrancar minha pele encardida e devastada de mel,
vejo meus galhos ardendo das esperas que nunca serão poupadas,
vejo o tempo gargalhando até sua carcaça atracar de vez.
Então me arremato numa compota de fé e desapareço como se nunca tivesse existido, como se nunca tivesse virado do avesso os travesseiros empedrados das minhas mais loucas paixões.
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